CEBs - COLHER ESPIGAS NO DIA DE SÁBADO

 


O Ecumenismo, a Identidade Cristã e a 


Urgência de uma Teologia Pastoral que nos 


ensine a colher espigas no dia de sábado




            São muitas, são abundantes as exigências e as urgências que desafiam o cristianismo em nosso tempo e espreitam o nosso ser cristão. Seria impossível apresentá-las todas aqui e mesmo porque, este é um assunto para se debater, para se meditar e se decidir em comunidade e como Igreja. Não é coisa para se fazer sozinho ou em apenas um grupinho. Tampouco como tarefa que alguém mandou fazer. A Igreja, como o Povo de Deus, é desafiada a conhecer e a reconhecer estas exigências e estas urgências e a partir deste reconhecimento, assumir o desafio de sair de sua zona de conforto e visitar as ilhas e os desertos que se multiplicam por todos os lugares. Bem diz o professor Vicente Artuso, “O primeiro sinal da misericórdia de Deus é sua visita, sua proximidade, seu olhar e sua escuta que o move para libertar e dar vida”. (in ROSSI, 2019, p 75).


            São igualmente numerosas as situações que exigem de nós libertação. Temos que nos libertar dos medos que nos silenciam; das obediências excessivas que nos mutilam a dimensão profética; dos fundamentalismos cada vez mais naturalizados, que nos deixam cegos; dos determinismos que nos fazem buscar desculpas e não libertação. Bem diz Osvaldo Montenegro, na música “A Lógica da Criação”, quando diz, “O mérito é todo dos santos, o erro e o pecado são meus. Mas onde está nossa vontade, se tudo é vontade de Deus?”. Aproxima-se o ano de 2021 e este ano de 2020 não passará por muitos anos! Teremos muito o que aprender com o ano de 2020, pelo resto de nossas vidas. E entre tantas lições e ensinamentos que este ano nos trouxe, estão a urgência, a necessidade e até mesmo a exigência de assumirmos um Cristianismo Ecumênico, que saiba reconhecer os outros como irmãos e irmãs. E a primeira exigência para que isto aconteça é a mudança de mentalidade. Primeiro, porque somos a Igreja e não da Igreja; segundo, porque somos antes de tudo, cristãos e cristãs, depois é que somos católicos e católicas romanos. Sem nos reconhecermos mutuamente, na prática, como irmãos e irmãs, não somos cristãos de verdade. Ao Ecumenismo bastaria esta passagem, “(...) que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; que também eles sejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”.  (ver Jo 17, 20-21), para ser a maior prioridade cristã.


            Caem sobre os ombros das CEBs o compromisso de tornar visível aos olhos do povo cristão, novas formas de agir. As CEBs se especializaram em propor os novos paradigmas de pensamento, de Igreja e de fé, sobretudo, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) e da Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín na Colômbia (1968), com uma teologia das experiências. O conceito de Religião e de Educação Libertadoras, por exemplo, deu voz ao saber e á fé popular e construiu uma ponte de esperança entre estas e os grandes místicos, teólogos e exegetas do mundo todo, mas de forma especial, os de nosso continente. Tratados teológicos, em forma de poesia e de oração, como este de Dom Pedro Casaldáliga, ““O século XXI cristão optará pelos excluídos ou não será cristão; o século XXI cristão ou será ecumênico ou não será eclesial; o século XXI ou será ecológico ou simplesmente não será”. A boa notícia é que isto continua valendo e que ainda dá tempo para incluirmos às nossas ações, estas verdades. O Ecumenismo, a Inclusão Social e a Ecologia: a Trindade que batiza o cristianismo do século XXI. Sem ela, não seremos cristãos. Talvez, católicos.


            Venho me dedicando e tenho dirigido alguns esforços para contribuir com a reflexão Teológico-Pastoral da Igreja, sobretudo, propondo uma Nova Hermenêutica, que atualize o agir pastoral e a eclesiologia da Igreja. O faço, sobretudo, a partir das CEBs e do CEBI. É urgente o surgimento de uma Teologia Leiga, quem sabe ela até já exista, falte apenas o seu reconhecimento. Sobretudo a Ação Pastoral carece de uma Teologia Pastoral, que lhe permita agir livremente, mas que sobretudo lhe incentive e lhe apoie nas suas buscas e conquistas. Carlos Lothar Hoch nos diz que, “Parece claro, contudo, que a pastoral tem como palco o mundo e como seus agentes o povo de Deus como um todo, enquanto que a Teologia Pastoral tem como palco os seminários e como seus agentes os/as professores/as e os seminaristas”. (LOTHAR, 2020, p 107). Parece-nos claro, ser este o ponto de contradição entre a Teologia Pastoral e a Ação Pastoral. Parece-nos igualmente válida esta reflexão de Lothar, para as CEBs.


 É o que busco fazer no último livro que publiquei, “Teologia Pastoral – A Arte do Seguimento e do Discipulado de Leigos e Leigas”. Este livro é fruto do desejo de contribuir com a Igreja como o Povo de Deus. É o que sinto e proponho quando digo, “As Pastorais são a Igreja que colhe espigas no dia de sábado – Colher espigas no dia de sábado (Lc 6, 1-5) – significa exatamente discernir o que é essencial do que é secundário. Exige certa autonomia de interpretação e de ação”. (SANTIAGO, 2020, p 20). A Teologia Pastoral é a Teologia das CEBs. Como professor de Teologia venho sentindo a necessidade de resgatar a ousadia e a esperança proféticas, duas forças que caracterizam a Teologia como uma ciência que carece de uma antropologia para existir. Porque, Teologia é a gente quem faz. Conforme diz Paulo Sérgio Lopes Gonçalves, ao se referir ao Papa Paulo VI, “(...) Tendo ciência particular de que com João XXIII, a Igreja havia escutado o mundo e, com ele, Paulo VI, no pontificado, a Igreja passaria a falar com o mundo” (in SOUZA, 2007, p 170). Acontece que, à luz de tudo isso, conosco hoje, a Igreja precisa transformar o mundo. E ela só conseguirá transformar o mundo sendo ecumênica. No ano de 2021, a Campanha da Fraternidade será ecumênica, falaremos sobre ela no próximo texto.

Curitiba, 31 de outubro de 2020.



João Ferreira Santiago.

Teólogo, Poeta e Militante.

É Mestre em Teologia pela PUC-PR e

Especialista em Assessoria Bíblica pela EST/CEBI

                                          É professor de Teologia na Faculdade UNINA.          

joao.ferreira@unina.edu.br


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